é a segunda vez, num curto espaço de tempo, que merendo no meio de livros. prazer a dobrar.

"se você ouvir beethoven é sempre o mesmo, mas se você ouvir o tráfego, é sempre diferente". John Cage

hoje é segunda-feira. apanhei o 28 como habitualmente. comprei o bilhete da viagem e aconcheguei-me por entre os corpos espessos. está cheio o eléctrico. faço a viagem com a devoção do costume. hoje não conheço as caras plantadas nos corpos que me amparam das correntes de ar. nunca mais vi por aqui a minha companhia de viagem. a passageira frequente. só menos frequente do que eu. viajo com tanta gente mas sinto-me só. e penso nela. deve ter-se mudado. ainda bem que não me vê. tenho andado trapilha com a vida. ainda bem que aqui não está. não sei se mais alguma vez aqui tomará viajem. não sei se estará à espera numa qualquer paragem da linha. continuo viajem. ela continua a sua. noutro eléctrico, porque precisa de se deslocar. espero que se me ver me reconheça e me olhe. com aqueles olhos de vida que só ela tem.

Pode ser que passe no elétrico ao lado. pode ser que tome o 28. pode ser.

precisava deste consolo, não sendo o consolo que precisava. e peco. e perco-me.