oh pah!
Cada momento passado juntos. Era uma celebração, uma Epifania, Nós os dois sozinhos no mundo, Tu, tão audaz, mais leve que uma asa, Descias numa vertigem a escada. A dois e dois, arrastando-me Através dos húmidos lilases, aos teus domínios. Do outro lado, passando o espelho. Pela noite concedias-me o favor, Abriam-se as portas do altar. E a nossa nudez iluminava o escuro. À medida que genuflectia. E ao acordar. Eu diria «Abençoada sejas!» Sabendo como pretenciosa era a bênção: Dormias, os lilases tombavam da mesa. Para tocar-te as pálpebras num universo de azul, E tu recebias esse sinal sobre as pálpebras Imóveis, e imóvel estava a tua mão quente. Rios palpitantes por dentro do cristal, A montanha assomando na bruma, mar enfurecido, E tu com a bola de cristal nas mãos, Sentada num trono enquanto dormes, - Deus do céu! - tu pertences-me. Acordas para transfigurar. As palavras de todos os dias, E o teu discorrer transbordante. De poder revela na palavra «tu». O seu novo sentido: significa «rei». Simples objectos transfigurados, Tudo - a bacia, o jarro -, tudo. Uma vez de sentinela entre nós Se torna límpido, laminar e firme. Íamos, sem saber por onde, Perseguidos por miragens de cidades. Derrotadas construídas no milagre, Hortelã pimenta a nossos pés, As aves acompanhando-nos o voo, E no rio os peixes à procura da nascente; O céu, a nós se abrindo. Porque o destino seguia-nos o rastro Como um louco com uma navalha na mão. - . Arseny Tarkovsky